04 fev SÃO JOÃO DE BRITO – Santo
SÃO JOÃO DE BRITO – DIA 4 DE FEVEREIRO
CANÇÕES DO MUSICAL SÃO JOÃO DE BRITO
FEITO PELO OPA SÃO PAULO NA PARÓQUIA SÃO JOÃO DE BRITO – SP
De uma das mais nobres famílias de Portugal, filho de um Governador Geral do Brasil, seguiu os passos de seu patrono, São Francisco Xavier, convertendo milhares à Fé de Cristo

Terceiro e último filho de D. Salvador Pereira de Brito e Dona Brites Pereira, João nasceu em Lisboa em 1º de março de 1647.
Era ainda muito menino quando seu pai foi mandado ao Brasil por D. João IV como governador do Rio de Janeiro, onde faleceu sem mais tornar a ver a família.
Coube assim a Dona Brites o ônus de educar os filhos. Ela o fez na escola do amor e do temor de Deus. João, o caçula, tendo que ir para a corte com a idade de nove anos, na qualidade de pajem do infante D. Pedro, graças à sua força de caráter e coração generoso ostentou sem respeito humano sua piedade entre seus companheiros de jogos e estudos. Nem sempre bem visto por isso, tornou-se objeto de chacota e injúrias da parte de condiscípulos, o que lhe mereceu o profético apelido de o mártir, que lhe deram na corte.
Impressionado com a vida de São Francisco Xavier, em relação a quem concebera terna devoção, João aspirou desde muito cedo a seguir seu exemplo, consagrando-se um dia ao apostolado na Índia.
Uma doença mortal parecia cercear ainda na raiz esses bons anelos. Mas Dona Brites não se deixou abater: prometeu ao Apóstolo das Índias que, se o filho recobrasse a saúde, vesti-lo-ia com o traje da Companhia de Jesus durante um ano. E foi ouvida.
Para o menino era um gozo acompanhar o infante na qualidade de pajem, assim vestido como seu patrono. Isso fez com que outro cognome lhe fosse dado: o de Apostolinho, pois os filhos de Santo Inácio, pelo seu zelo apostólico, eram em Portugal conhecidos como Apóstolos.
Noviço da Companhia de Jesus
João afeiçoou-se de tal maneira ao traje que usava, que não mais queria tirá-lo. Por isso, apenas completados os catorze anos, entrou para o noviciado jesuíta em Lisboa, apesar de todas as dificuldades que lhe opuseram na corte e família.
Animado de zelo apostólico, João de Brito entregou-se com ardor e sucesso ao estudo das belas-artes, filosofia e teologia, distinguindo-se também pela piedade e observância religiosa.
Durante o noviciado, seu desejo de seguir as pegadas de São Francisco Xavier somente aumentou. Por isso, implorou insistentemente a seu superior imediato, o Geral da Companhia, e ao rei que lhe concedessem essa graça. A mãe remexeu céus e terra para conservá-lo no reino. Mas a pertinácia de João de Brito em atender à inspiração divina levou a melhor, e ele, pouco depois de ordenado sacerdote, acompanhado de 17 outros missionários, partiu rumo ao destino tão almejado.
Conhecido como o Novo Xavier
João de Brito foi sempre muito devoto de São Francisco Xavier
A viagem foi feliz até as costas da Guiné, onde o navio ficou à mercê da calmaria, grassando uma epidemia a bordo. Embora também atingido, João de Brito dedicou-se com tanto empenho e amor aos empestados, que o cognominaram como o Novo Xavier. Ele implorou o auxílio do Apóstolo das Índias, e subitamente um vento promissor inflou novamente as lânguidas velas das caravelas portuguesas. No Cabo da Boa Esperança, bem justificando seu primeiro nome de Cabo das Tormentas, terrível tempestade pôs em risco o navio. Graças às orações de João de Brito a seu patrono, voltou a bonança, que os levou até às costas da Índia.
Na capital da Índia portuguesa, passageiros e tripulação apressaram-se em ir ao túmulo de São Francisco Xavier para agradecer seus favores. O Pe. Brito consagrou então seu apostolado a seu santo patrono, pedindo-lhe o zelo e ardor que necessitava para seu ministério.
Em Goa, enquanto esperava outro destino, o Pe. Brito dedicou-se à evangelização da parte mais abandonada da sociedade. Foi depois enviado para o colégio de Ambalacate, no sul da Índia, para o estudo das línguas locais.
A missão de Madurai, cheia de obstáculos
A Companhia de Jesus na Índia dividia-se em duas províncias, uma mais ao norte, e outra ao sul. Desta segunda faziam parte as missões do Ceilão, Meliapor, Bisnaga, Golconda, Bengala, Madurai, Travancore, Zancovin e os “cristãos de São Tomé”.(1) O Pe. Brito foi designado para a de Madurai, uma das mais difíceis. Esta “oferecia todas as dificuldades à evangelização, tanto por causa do clima ardente, das viagens através de areais, de pântanos, de bosques e de serras aspérrimas, como principalmente pela condição dos hindus e pelas suas idéias a respeito dos europeus”.(2)
“Para vencer todos esses obstáculos, os missionários condenavam-se às mais cruéis privações: conforme o conselho de São Paulo, eles faziam de tudo a todos para ganhar esse mundo a Jesus Cristo: incorporavam-se às castas, observando suas leis para as levar às do Evangelho”.(3)“ Conservando em tudo a pureza da doutrina cristã, procuraram amoldar-se ao caráter dos hindus, adotando os trajes, os costumes e o modo de viver dos ‘brâmanes saniassis’, espécie de religiosos letrados”(4) indianos. Esse método fora introduzido no início do século XVII pelo Pe. Roberto De Nobili, também jesuíta, fundador dessa missão do Madurai. Analisado pela Santa Sé na época, devido à polêmica que suscitou com os missionários portugueses, acabou sendo aceito pela Santa Sé. O Papa Gregório XV, mediante a Bula Romanae Sedis de 31-1-1623, permitiu ao Pe. Roberto De Nobili prosseguir aplicando seu método de apostolado.
Entretanto, a polêmica sobre esse tema prosseguiu durante todo o século XVII e metade do século XVIII, com sucessivas intervenções da Santa Sé, terminando com a Constituição Apostólica Omnium Sollicitudinum de 12-9-1724. Esta constituição, na linha de documentos anteriores, condenou o método do Pe. Nobili SJ, seguido até aquela data especialmente pelos jesuítas das missões de Madurai, Mysore e Carnate. Além da condenação, Bento XIV obrigou a todos que adotavam o mencionado método a um juramento de não mais praticá-lo, e cujo conteúdo era consubstanciado em 16 pontos.
O fato de São João de Brito ter adotado tal método não ofereceu dificuldade quanto à sua canonização: 1) porque durante sua vida este estava aprovado por uma bula pontifícia; 2) ademais, o santo foi canonizado como mártir e não como confessor.
O Pe. João de Brito devotou-se de corpo e alma aos seus neófitos, obtendo em pouco tempo brilhante resultado, uma vez que “os prodígios mais surpreendentes de seu zelo davam a seu ministério uma maravilhosa eficiência: povoados inteiros de pagãos convertiam-se ao Evangelho, e formavam novas cristandades que rivalizavam em fervor com as antigas”.(5)
Impressionados com esse sucesso e sobretudo pela fama de santidade do Pe. Brito, seus superiores confiaram-lhe toda a missão do Madurai.
Naquela época essa região era formada por vários reinos independentes, todos em estado de anarquia. Os brâmanes, como líderes religiosos da maioria da população, aproveitavam de seu grande ascendente para envenená-la contra os missionários cristãos –– que cada vez ganhavam mais terreno ––, perseguindo os neófitos. O Pe. Brito corria de um povoado a outro socorrendo os cristãos.
No ano de 1669, uma sangrenta perseguição quase aniquilou a cristandade do Maravá, uma das mais promissoras. Os que conseguiram escapar da morte ou exílio refugiaram-se nas florestas ou em cristandades vizinhas. Mas aos poucos, graças ao zelo dos neófitos e de alguns catequistas, aquele pequeno número foi novamente se reaglutinando, reafervorando, e até mesmo fazendo apostolado com os pagãos, o que suscitou nova perseguição em 1686. O Pe. Brito apressou-se a ir em socorro dos perseguidos, disposto a participar, se necessário, de sua sorte. Fortaleceu os tíbios, socorreu os doentes, administrou os sacramentos com tanto empenho e fruto, que chegou, em apenas dois meses, a receber na Igreja mais de dois mil pagãos. Isso lhe valeu a prisão com terríveis torturas. Só não recebeu o martírio nessa ocasião porque o Marajá do Maravá mandou libertá-lo e proibiu-o de pregar em seus Estados.
Procurador na Europa e visitador no Malabar
Pouco tempo depois, o provincial chamou-o a Portugal e a Roma para tratar de negócios da missão.
A fama do missionário o precedera, sendo ele recebido com entusiasmo na capital do reino. Todos disputavam sua presença. O rei D. Pedro II quis retê-lo a todo custo na corte como preceptor de seus filhos. Mas ele soube subtrair-se a todas as tentativas, inclusive a de fazê-lo arcebispo. Recolhendo também auxílio material para seus protegidos, empreendeu a viagem de volta ao seu campo de trabalho.
Depois de martirizado, os restos do Pe. Brito foram levados para Goa
O provincial mandou-o então visitar a província do Malabar.
Em 1691 o Pe. Brito voltou ao Maravá, apesar da perseguição dos brâmanes. Como seu patrono São Francisco Xavier, havia dias em que ficava com os braços quase inanimados de tanto administrar o batismo.
Entre esses novos conversos estava o príncipe Tariadevém, que involuntariamente seria causa de sua morte.
Para o receber na Igreja, João de Brito impôs como condição que ele escolhesse uma só esposa, afastando as demais. O generoso pagão o fez, repudiando as esposas secundárias. Uma delas era sobrinha do rajá do Maravá. Este, para “vingá-la”, não se atrevendo a fazer nada contra o príncipe, mandou saquear e queimar as igrejas cristãs e prender o missionário.
Depois de toda sorte de injúrias e maus tratos contra João de Brito, o tirano, a pedido do príncipe convertido, comutou a pena de morte do santo para a de exílio em terras de seu irmão. Mas a este mandou mensagem secreta de executar o missionário.
Na véspera de seu martírio, o qual ocorreu em 4 de fevereiro de 1693, escrevendo ao superior da missão, assim São João de Brito falava de sua morte: “Quando a culpa é virtude, o padecer é glória”.(6)
Já no local do suplício, o jesuíta avançou para seus perseguidores e pediu-lhes somente alguns minutos para preparar-se para a morte. “Caiu imediatamente de joelhos e, a face voltada para o oriente, permaneceu como raptado em êxtase. Entrementes, uma multidão inumerável cercava o local; e, um pouco mais longe, permanecia um grupo de neófitos que quiseram seguir seu Pai até o fim de sua carreira. Todos, pagãos e cristãos, tinham os olhos fixos no homem de Deus, e confundidos num mesmo sentimento de admiração, pareciam respeitar, por um grande silêncio, a prece do mártir. Entretanto chegou o carrasco encarregado da execução, com uma cimitarra à mão. Não ousando interromper (o santo) em sua prece, maquinalmente tomou uma pedra aguda e começou a afiar sua arma. Um enviado do ministro apressou-o a cumprir suas ordens. O Pe. Brito então fez o Sinal da Cruz, levantou-se e, com o rosto resplandecente duma alegria divina, avançou para o carrasco, abraçando-o afetuosamente e dizendo-lhe: ‘Meu amigo, eu já rezei a meu Deus; fiz o que devia fazer; executa agora a ordem que te foi dada’”. O carrasco, emocionado, teve que repetir vários golpes até decepar aquela cabeça venerável. Depois, segundo a ordem que havia recebido, decepou os pés e as mãos do mártir, prendeu-os à cabeça decepada e ao resto do tronco, colocando tudo no alto de um poste para que todos vissem.
O local do martírio ficou guardado por soldados, para impedir aos cristãos de pegarem as sagradas relíquias. Nas noites seguintes pairou sobre elas uma misteriosa luz. Depois surgiram umas feras que devoraram quase por completo os sagrados despojos, remanescendo algumas poucas relíquias que os cristãos enviaram ao Colégio São Paulo, de Goa.
Imediatamente o nome do mártir tornou-se objeto de veneração, e numerosos milagres foram operados por sua intercessão, o que levou o bem-aventurado Papa Pio IX a inscrevê-lo no rol dos Beatos, e ao Papa Pio XII a canonizá-lo em 22 de junho de 1947.
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Notas:
1. Assim se chamavam os cristãos que os portugueses encontraram na Índia, e que atribuíam sua origem ao apostolado de São Tomé.
2. Santos de Cada Dia, organização do Pe. José Leite, S.J., Editorial A.O., Braga, 1993, 3ª edição, vol. I, p. 175.
3. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le P. Giry, par Mgr. Paul Guérin, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, t. II, p. 271.
4. Santos de Cada Dia, id., ib.
5. Les Petits Bollandistes, id., ib.
6. Santos de Cada Dia, t. II, p. 178.
No encontro nacional do OPA, em 2007
No dia 4 de fevereiro foi o dia que morreu São João de Brito, jesuíta português e missionário.
Por: Pe. Nelson Faria, sj
Quem é visitado, sai a visitar. É assim nas epopeias gregas, que nos contam as histórias de Ulisses, Aquiles e seus companheiros. É assim nos relatos bíblicos, como os de Abraão, Moisés e Maria. Até nas histórias favoritas do nosso tempo, como as sagas «Harry Potter», «Star Wars» ou «Senhor dos Anéis», a aventura começa sempre com uma visita inesperada, que leva os nossos «heróis» a sair de casa rumo ao desconhecido. Foi assim também com S. João de Brito, que na sua adolescência viu a vida de S. Francisco Xavier como convite a sonhar, a arriscar, e a apaixonar-se pela realidade à qual era chamado.
Um jovem de grandes sonhos
Numa das colinas de Lisboa, no seio de uma família da corte portuguesa, no primeiro dia do mês de março de 1647, João de Brito vê o mundo pela primeira vez. Ainda na sua infância, vivendo numa corte que era o coração daquele que era então um império espalhado por cinco continentes, torna-se companheiro de brincadeiras do príncipe que viria a ser o Rei D. Pedro II. O esplendor, luxo e o poder da corte não poderiam deixar de atrair este jovem, mas foi a vida de S. Francisco Xavier, um dos primeiros jesuítas e missionário no Oriente, que verdadeiramente despertou em si a capacidade de sonhar em grande.
A atração pelo exemplo e vida de S. Francisco Xavier leva-o a entrar na Companhia de Jesus onde, ao ler as cartas enviadas pelos missionários da Índia, toma conhecimento da existência dos «párias», pessoas sem casta e, naturalmente, sem lugar na sociedade indiana, forçados a viver fora das populações, muitas vezes na selva. Os membros das castas recusavam tocar-lhes, bem como qualquer objeto com o qual eles tivessem entrado em contato, ou casa em que tivessem entrado, ou fruto que tivessem cultivado e colhido, condenando-os a uma miséria absoluta.
O futuro depende da qualidade dos nossos sonhos, e para S. João de Brito nada lhe parecia maior do que ir até às realidades onde há pessoas esquecidas, às periferias existenciais, dando-lhes voz, chamando-os à fé, elevando-os como pudesse, sendo testemunha, entre eles, de uma alegria e esperança sempre maiores.
O futuro depende da qualidade dos nossos sonhos, e para S. João de Brito nada lhe parecia maior do que ir até às realidades onde há pessoas esquecidas, às periferias existenciais, dando-lhes voz, chamando-os à fé, elevando-os como pudesse, sendo testemunha, entre eles, de uma alegria e esperança sempre maiores. Movido por esta atração, conduzido por este sonho, tenta, com todas as suas forças e contra os desejos da sua família, da família real, e até do Provincial dos jesuítas em Portugal, ser enviado para a Índia. Mas tal foi-lhe constantemente negado, até que um missionário, de passagem por Lisboa, intercede junto de Roma para que o enviem para a Índia, rumo ao seu sonho.
Toda a aventura implica assumir riscos
Este santo jesuíta é então enviado ao Madurai, no sul da Índia. Para chegar à Índia, passou sete meses num barco, onde entre outros, nove dos dezassete jesuítas que o acompanhavam pereceram, devido às doenças e perigos dessas viagens. Uma vez aí chegado, e para alcançar o Madurai, e sem o conforto de calçado nos seus pés para melhor se integrar na realidade indiana, atravessou selvas, escalou escarpas, desbravou caminho, em mais uma longa viagem, sob o receio constante de ser morto por tigres, ursos e outros animais selvagens. Chegado ao Madurai, habitando terras sob o domínio de reis e príncipes indianos, longe da proteção em que viviam outros portugueses, viveu entre o louvor e a perseguição, não poucas vezes refugiando-se na selva, entre os fora da lei, onde batizava e catequizava discretamente, muitas vezes em segredo, acolhendo e consolando cristãos e uma multidão de curiosos.
À medida que a sua fama de santidade crescia, também um certo sentimento de inimizade por parte das autoridades políticas e religiosas locais aumentava, porque o viam como alguém que abalava uma estrutura social baseada na exclusão. Mas S. João de Brito, diante do perigo, da dificuldade e da perseguição, socorria-se de uma oração simples e pobre, dizendo tão somente: «Senhor, aqui estou! Que queres que eu faça?» – esta pergunta-chave para a espiritualidade dos jesuítas, levava-o a enfrentar as incontornáveis dificuldades, as recorrentes prisões e as constantes humilhações, com esperança e alegria, sabendo que estas últimas são as marcas de um apóstolo.
Numa das últimas cartas que escreveu, na última vez que foi preso, podemos ler: «quando a culpa é virtude, o padecer é glória» – isto é, ser perseguido, humilhado ou rejeitado por fazer o bem, não nos deve inquietar, mas pelo contrário, deve-nos encorajar e até alegrar, pois é a isso que somos chamados: a fazer a diferença, a assumir riscos, a agir, para assim ser sinal de um Deus que não se conforma com a injustiça e que a todos convida a participar na alegria da comunhão. Este atrevimento sereno, esta ousadia constante de S. João de Brito, é luz para os nossos dias, onde por vezes podemos ser demasiado tímidos na forma como vivemos a nossa fé ou ponderamos o nosso papel na realidade maior que é o mundo.
Paixão pela realidade
Não se pode evangelizar uma cultura que não se ama. E S. João de Brito, assumindo um caráter profético em palavras e obras, nunca deixava de fazer acompanhar a denúncia da injustiça com o anúncio de um Reino de paz e amor. Assim que chegou à Índia, adotou os costumes locais, e não só começou a andar descalço, como assumiu os trajes dos «sacerdotes» hindus, a dormir no chão, e a abster-se de carne, de ovos, de peixe, passando a sua alimentação a consistir de arroz, verduras e fruta, tendo como mesa o chão, como pratos as folhas das árvores, e como talheres as mãos.
Não se pode evangelizar uma cultura que não se ama. E S. João de Brito, assumindo um caráter profético em palavras e obras, nunca deixava de fazer acompanhar a denúncia da injustiça com o anúncio de um Reino de paz e amor.
Quando teve de viajar até à Europa, depois de mais uma década vivida na Índia, para dar conta ao Geral da Companhia de Jesus das atividades dos jesuítas naquela região, a todos surpreendeu por não abandonar o estilo de vida que lá adotou, dizendo que os seus irmãos que tinham ficado assim viviam, e que ele era um deles. Ficou três anos em Lisboa, entre 1687 e 1690, considerado um «santo vivo», e que a muitos surpreendeu quando, numa varanda da casa dos jesuítas no Porto, mostrou cerimónias típicas do Madurai, chegando mesmo a dançar para que quem o visse tivesse uma ideia da beleza da cultura em que vivia.
S. João de Brito é para nós hoje um forte sinal de que só um amor pela realidade em que estamos abre as portas da evangelização e da transformação, por dentro, dos lugares a que somos enviados. A fé não é um conhecimento que se transmite, mas uma contagiante alegria, e só o testemunho da fé vivida, em esperança e alegria, incendeia os outros corações.
Um companheiro de caminho para os jovens de hoje
Após enfrentar muitas resistências à sua partida, S. João de Brito conseguiu voltar à Índia, em 1690, voltando ao seu trabalho de sempre. A conversão de um príncipe do Madurai criou uma tal convulsão religiosa e política que acabam por prendê-lo, mais uma vez, em 1693. Foi então condenado à morte, o que veio a acontecer a 4 de fevereiro.
S. João de Brito rompeu as expetativas em torno da sua vida porque ousou sonhar. Ele transformou a realidade à qual foi enviado porque assumiu o risco da grande aventura que é a vida de cada um. Ele evangelizou porque amava a cultura à qual foi enviado. A vida de S. João de Brito é, nos nossos dias, um eco palpável do convite que Jesus faz aos discípulos no mar da Galileia a fazerem-se ao largo – duc in altum –, a arriscar o desconhecido, a ousar partir. Sonho, risco, e paixão pela realidade, são três caraterísticas da vida de S. João de Brito que podem inspirar os nossos jovens a uma nova ousadia apostólica, a uma maior disponibilidade para o sonho de Deus de fraternidade universal, e assim dando-lhe glória com as suas vidas, através deste encontro inesperado com um santo mártir que nos leva à maior aventura da Humanidade: o seguimento de Cristo.
Fonte:
Site PONTO SJ (Jesuítas em Portugal)
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