10 ago ORAÇÃO DA BAILARINA
AUTORIA: Pe. Irala
OBSERVAÇÃO
Venho a Ti, Senhor, inclino meu corpo diante de Ti
num gesto de graça. Trago em oração tudo que me move:
meus pés, a cabeça, as mãos, o meu corpo.
Meu corpo, meu corpo, meu corpo, meu corpo…
Meu corpo sou eu, minha alma é a dança;
a música: o clima; a luz: o arco íris.
Te trago palavras de músculo e vida.
Eu sei que no mundo há quem não entenda
o meu linguajar e não compreenda
que falo, que expresso, que digo e que grito.
Mas Tu compreendes, Senhor, os meus gestos.
Mas Tu compreendes Senhor a minha alma.
Momentos eu tenho em que sinto um vazio,
vazio profundo, silente e escuro
e eu apalpo com as mãos a vida invertida
do nada que grita, que clama e reclama…
E nesse momento eu sinto uma força
sulcando-me as veias, os braços, as pernas
e sinto-me leve e acordo a saudade
de ser pena de ave, de voar nos ares
e então ressuscita meu corpo do nada
e brinca e se atrela na estrela
mais alta, mais linda, mais pura…
E assim pelos ares eu sinto que às vezes
eu não fui criada pra morar na terra.
Meu Deus,
a dança se faz de exaustão e cansaço:
é a parte de terra que me corresponde;
é a parte do NADA que a mim só pertence;
é a parte do barro do que fui criada.
Meu Deus, não me deixes sozinha nos ares:
faz que eu supere o limite do corpo,
meu corpo, meu corpo, meu corpo, meu corpo:
meu corpo sou eu: não me deixes só.
Quando a bailarina dançou tão bonito
e Herodes cumpriu a horrenda promessa
e prêmio da dança foi numa bandeja
a cabeça de João, o grande profeta,
todas nós dançamos a dança macabra,
a dança do corpo vendido, entregado,
a dança abjeta, do objeto do corpo.
Meu corpo sou eu: “me fazem” objeto;
me usam, me olham, me despem, me absorvem,
me compram, me vendem, me trocam, me esquecem,
me querem, me sugam, me puxam, me espremem,
me fazem objeto, me fazem abjeta.
Mas eu não me entrego
e danço sozinha rasgando o infinito
do imenso vazio do nada e Te encontro:
encontro teu dedo indicando o caminho
contando meus passos
marcando as entradas
na coreografia do imenso cenário
de todo o universo, da vida mais plena.
Meus Deus, meu Feitor, meu Pai e meu Tudo
me deste a linguagem dos privilegiados,
o idioma que um dia, na vida futura
falarão os corpos dos ressuscitados.
Fizeste-me um anjo,
um pássaro, uma ave:
escuta meu grito de músculo e raça:
Meu corpo sou eu, sou eu quem te adora.
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