24 fev FÁBULA O LOBO E O CARNEIRO
AUTORIA: Clara Bernardes, Dácio Coelho, Júlia Azevedo, Lucas Lucas, Luis Mercier e Marianna Azeredo
ANO DE CRIAÇÃO: 2018
Lá bem longe, em um lugarzinho distante, depois das colinas do arrebol, havia um vilarejo que era liderado por Seu Cornélio Carneiro. Ele era o responsável por comandar e aconselhar os que lá viviam. Era um carneiro justo e bom.
O seu Cornélio tinha um filho, um cordeirinho atrapalhado chamado Alan. Alan vivia a espiar uma família que morava na outra margem do rio, na aldeia dos Lobões.
Nesta aldeia, existia um ancião que se chamava Seu Lobonildo. Ele era o capitão da guarda responsável pela segurança do grupo, não aceitava indisciplina e nem que seus seguidores fossem fracos ou sensíveis. Um senhor muito rígido, duro e introspectivo. Conhecido por ter um temperamento explosivo escondido em um semblante observador, seu Lobonildo era temido por todos.
Seu Cornélio Carneiro, todas as noites, reunia seu rebanho a fim de ouvir suas necessidades. Com calma e tranquilidade, após ouvir a todos, ele sugeria soluções que eram postas em votação. Alan achava essas reuniões muito chatas, perdia-se muito tempo discutindo, muitos berravam, e muitas vezes não se chegava a nenhuma conclusão. O sonho dele era ser como o chefe dos lobões, forte, rápido e decidido, e não como o seu pai pacato, bonachão e cordial.
Após várias reuniões para decidir o futuro das colinas do arrebol, Seu Cornélio Carneiro foi vencido pelos votos da maioria, e acatou então essa decisão. Naquela noite, voltando da assembleia, Alan confrontou seu pai.
-
Papahahahahahii, você acreditava na sua ideia, neeheheheh?
-
Sim filho, muito…
-
Então por que você foi com a maioria?
-
Porque nós ovelhas e carneiros agimos dessa forma, respeitando os outros e pensando em um bem maior.
-
Você não sabe se impor, e se a maioria estiver errada?
-
Com o erro aprenderemos. Como carneiros e ovelhas assim sempre fizemos
-
Mas eu não pedi para nascer ovelha!!!!!
Nesse momento, Alan deu as costas a seu pai, e saiu furioso. Era o início de uma longa e escura noite de lua cheia, e uma densa neblina pairava sobre as colinas.
Tristonho, passeava pelos campos do arrebol quando foi surpreendido por um uivar conhecido. Era o uivo de Seu Lobonildo.
A neblina já não deixava mais o pobre cordeirinho enxergar duas patas para além do seu focinho. Ele olhava para todos os lados tentando entender onde estava, e de repente, não mais que de repente, eis que surge uma voz.
-
Boa noite meu pequeno! O que faz aqui nessa noite tão escura?
-
Estava explorando os arrebores, humm…E gosto de lua cheia!
-
Mas ovelhas gostam de lua cheia? Vocês não têm medo dos lobos?
-
Eu não, meu espirito é outro. Me sinto como um lobo em pele de cordeiro.
-
É mesmo? Mas me diga uma coisa, na sua “alcateia”, quantos lobinhos você já venceu?
-
Eu venci todos com quem já lutei!
-
Nossa! Então estou conversando com um guerreiro! Nunca esperaria isso do filho de Cornélio Carneiro. Seu pai deve estar orgulhoso!
-
Na verdade não! Meu pai não valoriza isso, para ele eu sou só mais um.
-
Ora vejam só, eu estaria muito orgulhoso, você seria exaltado na minha alcateia.
Nesse momento Alan seguiu Seu Lobonildo até a aldeia dos lobões.
-
Vai dormir Alan Carneiro, amanhã será um looooooouuuu(uivo)go dia…
Enquanto isso Cornélio Carneiro voltou pra sua casa entristecido mas esperançoso que seu filho voltasse logo. Pouco tempo depois, a velha ovelha Ofelia, que morava as margens do rio e adorava cuidar da vida alheia, bateu à sua porta.
-
Seu Cornélio, tudo bem com o senhor?
-
Sim e a senhora?
-
Ah… eu ando meio preocupada, acabei de ver seu amigo Lobonildo rondando a minha casa.
-
Ah dona Ofélia… é mesmo?
-
É sim! E você não vai acreditar com quem ele estava!
-
Diga dona Ofélia…
-
O Alanzinho!
-
Tem certeza que era ele? Tem muita neblina hoje.
-
Ah! Eu tenho certeza, era o Alanzinho!
E pela primeira vez ele se abalou com uma noticia dada pela velha ovelha Ofélia, mas não reagindo a ela, com sabedoria disse:
-
Bom, cada um vai pelo seu próprio caminho…
Amanheceu mais um dia nas Colinas do Arrebol, ouviram-se os tambores na aldeia dos lobões.
“O UIVO RETUMBANTE / DIA E NOITE SEM PARAR / O TRABALHO E MEU LEMA / EU NÃO SOU DE FRAQUEJAR / UM DOIS TRÊS / TRÊS DOIS UM / LOBOS UIVANTES NÃO SÃO PRA QUALQUER UM!”
Alan logo de cara se encantou com a aldeia dos lobões, ele viu que os lobos eram muito organizados, práticos, cada um tinha sua função, e todos obedeciam fielmente seu líder. Isso era tudo o que ele sempre quis, ter poder e sucesso.
Sua admiração cresceu ainda mais por Lobonildo quando ele ouviu seu discurso:
-
Hoje é um dia glorioso! Nós não somos como aquelas ovelhas e carneiros medrosos do outro lado do rio. Nós fazemos história. Aqui é ordem e progresso! Queria apresentar a vocês, o lobo que será o futuro chefe do rebanho de nossos amigos da outra margem, o lobo Alan Carneiro, e com isso seremos enfim dois povos e uma só nação. Para concretizar esse ato, tragam o cordeiro que será sacrificado.
Para a surpresa de Alan, o cordeiro que seria sacrificado era um dos seus.
-
Venha Alan, e prove sua valentia, mate este cordeirinho que antes não lhe temia.
De frente do aflito cordeirinho, vendo como ele tremia, Alan estremece diante da maldade que faria.
Estava a um passo de um lobo se tornar, mas que alto preço estava disposto a pagar?
Pensou em seu rebanho, e por tudo que passou, se viu em seu irmão cordeiro, e por eles chorou.
E assim Alan se dirigiu a Lobonildo:
-
Mate a mim e liberte esse meu irmão!
Lobonildo, de duro coração disse:
-
Covardes eu não como não!
Alan e seu amigo, libertos por Lobonildo, atravessaram o rio e para casa voltaram.
A velha ovelha Ofélia, que para variar estava na janela, viu a cena e correu para contar a Cornélio que seu filho desgarrado chegara.
Cornélio Carneiro cheio de alegria convida todo o rebanho para uma festa. No meio da comemoração, do alto das colinas do arrebol, eis que surge Lobonildo salivando de raiva.
Todos na aldeia ficaram apreensivos com a presença do lobo.
-
Onde está Cornélio Carneiro? Quero falar com ele!
A velha ovelha Ofélia então surgiu:
-
Oi querido, quanto tempo não lhe vejo por esses arrebores!
-
Sai do meu caminho sua velha intrigueira!
-
Tá nervosinho? Foi o Alanzinho? Fiquei sabendo que ele te deixou com o rabo entre as pernas hihihi!
Logo, o embate entre lobo e carneiro se travou:
-
Cornélio, eu vim aqui lavar minha honra que foi tirada pelo seu filho! Agora todos na alcateia me chamam de covarde por não ter matado um simples cordeirinho!
-
Você não é covarde por ter praticado o bem…
-
Que bem? O bem do lobo é a sua imagem e força! Eu vim buscar aquele cordeiro que se acha lobo!
Alan, agora consciente de si, apareceu e disse:
-
Aqui não há lobos! Só há ovelhas, e de tantas e unidas que somos, vencemos qualquer um dos lobos! Só é fraco quem quer ser o que não é!
— Fim —
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